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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Assistimos primeiro: Brilho de Uma Paixão

Esta semana tive o prazer de assistir a um filme pelo qual esperava com muito afinco. Trata-se de "Brilho de uma Paixão", da mesma diretora de "O Piano", a neozeolandesa Jane Campion. Sempre me agradou a forma poética da qual ela se apropria para rodar seus filmes. Texto e imagens em perfeita sintonia transbordam lirismo e singeleza de maneira bem peculiar.

Baseado em fatos reais, "Brilho de uma Paixão" retrata os quatro anos de romance envolvendo o poeta John Keats - um dos expoentes da literatura romântica inglesa - e a vizinha dele, Fanny Brawne. O longa é ambientado na Londres do início do século XIX e trabalha com a temática amorosa de maneira intensa.

Brawne era uma jovem cuja paixão era costurar todas as roupas que vestia. Keats, poeta com um perturbante problema: a crise de inspiração. Aqui temos uma dose extra de lirismo, já que une a costura - que a mim sempre foi algo absolutamente simbólico e poético - à poesia em si. Ao se conhenhecerem, Fanny e John dão início a um romance envolvente que esteve na iminência de ser levado às últimas consequências. Ao longo do filme, fica claro que a relação e identificação entre ambos transcendia a carne, era algo que ocupava o patamar espiritual. Nutriam um pelo outro uma devoção ardente e intoxicante. A ausência de Fanny era um castigo para ele. Ficar sem notícias de John era como se tivessem tirado o ar dos pulmões de Fanny.

"Brilho de uma Paixão" é uma história simples e bela, sem firulas e acontecimentos que mudam tudo de maneira repentina. Uma narração singela e cadenciada que retrata o amor e as injustiças de se amar numa época em que as escolhas e a disposição em viver uma paixão, não eram suficientes para se torna-la possível - o que faz da inconcretude da realização amorosa algo angustiante e injusto.

Transcendental

Keats morreu aos 25 anos de idade. Dessa forma, o longa culmina em um final triste, mesmo assim nobre e honesto. "Uma coisa bela é uma alegria perene" escreveu o poeta. A certeza da perenidade do amor é confortante, embora insatisfatória diante dos rompimentos extremos.

A parte técnica de "Brilho de uma Paixão" é paranormal. Uma fotografia lindíssima e que se mantém correta até o fim do longa. O figurino, de Janet Patterson está cotado para levar a estatueta dourada no Oscar 2010 (infelizmente a única indicação conseguida pelo filme), mas tem um concorrente forte, "A Jovem Vitória" com suas peças suntuosas. A trilha sonora é impecável, com destaque para a orquestra de vozes humanas e o violino permanentemente melancólico.

"Brilho de uma Paixão" não é um filme feito para agradar a todos, mas se você aprecia arte e, principalmente, poesia não perca! O longa é um deleite visual e sonoro, inesquecível.

Este post é a estreia do nosso novo colaborador. André Martins estuda jornalismo, é apaixonado por cinema e mora longe pra caramba. Ele vai escrever sobre cinema aqui no @tudoemgeral toda semana.

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1 comentários:

Najela Bruck disse...

Arrasaou André Martins! Parabéns.

 
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