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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Entrevista: Marcelo Tas

Conhecer ídolos é sempre um negócio meio tenso, porque existe aquela sensação de que a qualquer momento o cara pode ser um merda e toda a sua expectativa ir por água abaixo. Fiquei, obviamente, meio tenso ao entrevistar o jornalista Marcelo Tas (que eu já admirava muito antes do CQC, diga-se de passagem).

O cara veio atá a faculdade onde eu estudo (Uni BH) para fazer uma palestra sobre "As virtudes e os efeitos colaterais da nova comunicação digital" e lá fui eu fazer a cobertura do evento. Para minha surpresa, e felicidade, Marcelo Tas é uma pessoa bem humorada de verdade, acessível e, pelo menos aparentemente, exatamente o que ele é na televisão.
A entrevista foi feita para o programa Informando, da TV UniBH, e com autorização do próprio Marcelo Tas, publicada na íntegra aqui no Tudo em Geral.

Olha isso!
Você foi um dos primeros a ter um blog no Brasil. Naquela época você já imaginava a projeção que os blogs teriam num futuro não tão distante?

Eu já imaginava tudo (muitos risos). Olha, não. Mas eu tive uma experiência muito precoce com internet, por ter morado fora do Brasil na decáda de 80. Tive um contato com a web na Universidade de Nova York, com chats, e também na Universidade da California. Isso nos anos 80 era praticamente como tomar uma droga que ninguém tinha tomado ainda. Por isso, quando chegaram as ferramentas [no Brasil], eu já estava meio que esperando aquela hora. Meu primeiro blog, foi na TV Cultura, criando o blog do [programa] Vitrine. Eu sempre acreditei qeu a televisão precisava de uma orelha. A televisão é um veículo muito surdo, a TV só fala e não ouve ninguém. A gente usou o blog pra ouvir os telespectadores do vitrine, e aí eu tive a certeza de que aquilo tinha vindo pra ficar na minha vida.
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Sobre essa questão da TV ser um veículo surdo. Em uma entrevista sua [na Revista Playboy, Janeiro de 2009], você disse que quando acabava o CQC vc corria pro Twitter e pesquisava o que tinha sido dito sobre o programa. Mesmo hoje, depois de tanto tempo no ar, ainda rola a mesma tensão de saber o que as pessoas estao comentando?

A mesma. Porque TV é aquele negócio, se você não fizer com paixão e estiver gostando muito é um negócio muito insalubre pra trabalhar. Se você não estiver gostando é melhor procurar outra coisa. Essa semana, por exemplo, pela primeira vez eu twittei durante o programa, que é uma coisa meio perigosa, e agora eu tô começando a me sentir mais a vontade. Então, antes de o programa terminar eu tava tranquilo, e fiz uma foto com o meu ponto de vista. Da câmera, da plateia e subi e agradeci. Durante o programa eu vejo muito o que o pessoal tá falando, e agradeci as dicas e tal. Foi incrível a resposta. As pessoas levaram um susto assim, "mas o programa não ta no ar?" (risos)
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Faz-se muitas comparações entre o que você fez nos anos 80, com o fictício repórter Ernersto Varella, ao lado do na época estreante Fernando Meirelles, e o que o CQC faz hoje. Como você vê essa semelhança?

A semelhança é que é humor e jornalismo. Então o DNA dos dois é o mesmo. Pra mim é muito claro isso. E o CQC é um programa de humor cujo combustível é o jornalismo. E o que marca o CQC é que nós fazemos os dois com igual seriedade. Nós levamos a sério o jornalismo e levamos a sério o humor. E aí entra a conradição, porque são duas coisas que aparentemente não se encaixam. Pra mim, esse é o segredo do programa: são das faíscas que saem de se colocar jornalismo e humor no mesmo lugar.


Como foi fazer o Telecurso 2000? (Na época do lançamento do programa, Marcelo Tas foi um dos criadores e coordenadores do projeto)

Foi, talvez a experiência mais intensa, profunda e difícil que eu já tive em televisão. Fico muito feliz quando alguém me faz essa pergunta porque raramente as pessoas sabem que eu participei do Telecurso. Foi o maior projeto de TV que eu já participei. Foram 5 anos ininterruptos e agora eu voltei e fiz mais um ano e meio da série nova, que estreou em 2008. Eu coordenava a criação dos roteiros. A gente chegou a ter 14 roteiristas, na época de pico. É um trabalho... (pausa) Eu amo trabalhar com roteirista. Roteirista pra mim, é assim: eu amo e odeio roteirista. (risos) E eu sou roteirista tambem (mais risos).
E eu tive grandes companheiros. Alguns inclusive ficaram muito famosos e conhecidos, como o Bráulio Mantovani, que foi meu braço direito. Quando o Telecurso começou a ficar grande demais, foi um grande aprendizado trabalhar com ele. É engraçado que o Bráulio hoje, depois de Cidade de Deus e Tropa de Elite, tá fazendo filmes em Hollywood. E quando a gente se encontra ele comenta que a melhor escola dele foi o Telecurso. E foi. Pra mim também foi. É um projeto grande demais, atinge uma massa gigantesca de brasileiros. Já tem mais de 100 milhões de pessoas que se formaram, que foram aprovadas nas provas. E usaram o telecurso. Então é realmente um projeto que eu tenho a maior alegria e desejo de continuar participando.
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Você já falou que sua vaga no céu está garantida pelos 5 anos que você passou no Telecurso. Uma outra parte da sua vaga foi garantida pelo seu trabalho no Castelo Rá-Tim-Bum, com seu trabalho voltado para o público infanto juvenil?

É, talvez. O Rá-Tim-Bum vai me ajudar um pouquinho. Mas pode ser que o CQC compense tudo isso e eu vá para o inferno, né? Eu vou arder no inferno por causa de Rafael Cortez, Danilo Gentili e todos aqueles animais. A disputa vai ser dificil entre Deus e o Diabo (muitos risos)
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Sobre seu livro [Tas acaba de lançar o livro Nunca Antes na História Deste País, um apanhado com as "melhores" frases ditas pelo Presidente Lula ao longo de seus mandatos]. De onde veio a ideia de fazer essa compilação de frases do Lula, e quanto tempo você levou pra concluir o livro?

Levei quase um ano. Na verdade, o Marcelo Duarte, editor da Panda Books, me procurou com uma pasta nas mãos. Jogou essa pastinha pra mim e disse "Dá uma olhada e vê se você acha que isso vira um livro". E eram aquelas frases do Lula que a gente conhece. E eu não gostei nem um pouco de pensar em fazer um livro de patacoadas do Lula, as coisas estapafúrdias do Presidente, achei que isso já tava meio manjado. Então fiquei meio angustiado com aquilo, fiquei com aquela pasta, e pensando "meu Deus, será que eu vou me meter a fazer um livro?". Até que me veio tudo. Livro tem disso. Eu já tinha ouvido muito alguns escritores falando isso, mas nunca tinha experimentado. Você tá com todo aquele material, de repente você vê o livro. E aí eu vi: o Lula passou a vida inteira dele fazendo uma espécie de confissão: que nunca tinha estudado, que não tinha diploma. Ele meio que se vangloria disso. O que é até ruim, né? E agora, quando ele vira presidente, é como se ele tivesse todos os diplomas do mundo. Foi essa a minha visão.
Então depois que ele virou presidente, ele sabe sobre águas profundas, sobre ecologia, cibernética, futebol. Neguinho pergunta pra ele, ele sabe tudo na hora. Eu pensei "porra, esse livro é sobre todos os diplomas do Lula". E aí veio a ideia de fazer cada capítulo uma profisão diferente. E virou uma grande brincadeira fazer o livro, fazer um quebra cabeça. Foi dificíllimo, inclusive. Juntar 5,000 frases e tentar achar esses personagens e justificar esses personagens depois. virou um trabalho sem fim, mas um trabalho que me deu um grande prazer. E aí eu entendi o que é esse gosto de parir um livro. Você acorda e dorme com aquilo, tem de ficar constantemente escrevendo e reescrevendo e aquilo parece que nunca termina, e não termina mesmo. Aí um dia o editor entra dentro da sua casa, arranca o livro da sua mão e publica. É mais ou menos assim que funciona.
Mas tô muito feliz, porque eu acredito que é um livro que não toma partido, é um livro aberto. O leitor tira suas conclusões. E tive a felicidade de trabalhar com o ilustrador Ricardo Gimenez que é um cara muito talentoso, que já publicou várias coisa fora do país, mas nunca tinha feito nada aqui. Eu gostei muito.
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Hoje em dia, todo mundo tá na internet. Todo mundo tem acesso a informação e pode passar essa informação pra frente. Os blogs ainda são vistos como veículos de pouca credibilidade?

Não. Alguns blogs tem mais leitores que os jornais. E até tem mais poder que algumas revistas e jornais. Agora, o que eu percebo é que ainda sobrevive, e deve sobreviver por algum tempo, um preconceito. Sinônimo de preconceito é ignorância. Quando você não quer ver uma coisa, você prefere tratá-la com preconceito. É isso que acontece com o preconceito racial, com o preconceito contra homossexuais. Uma série de coisas que você tem medo de entender, de encarar, e você diz "isso eu não quero." Mas isso são águas passadas. O jornalismo já foi colocado de cabeça pra baixo por conta da revolução digital. Os grandes jornais já estão há muito tempo dentro disso. O principal veículo de comunicação do planeta, o New York Times, é por acaso quem tem os melhores blogs, os melhores colunistas, que estão na rede. E hoje eles fazem vídeo também, não é só blog.
Então, eu não tenho nenhuma dúvida mais disso. Agora, pra mim, não tem briga. Eu acho um equívoco fazer a imprensa escrita contra a imprensa digital. Ou a TV contra a web. Isso é um equívoco gigantesco, entendeu? A mudança agora é muito maior. A gente não tá diante de uma nova mídia, como aconteceu com a minha geração, que recebeu a TV e o rádio. Não estamos diante disso mais. Nós estamos diante de uma mudança que vai mudar tudo o que veio antes. Que altera nossas relações, a maneira da gente estudar, a maneira dos professores darem aula, a maneira dos pais cuidarem dos filhos, das empresas fazerem negocios, dos bancos pagarem as contas. Tudo. Da eletricidade ser controlada, das telecomunicações. Enfim, tudo. A maneira como vamos ao supermercado e assistimos futebol. Não é uma mudancinha. Todos nós fomos pra uma outra camada do joguinho. Mesmo quem não quer ir. Mesmo quem não sabe do que eu estou falando já está conectado. É uma era excepcional pra quem está interessado em comunicação, em conhecimento, em troca de informação, em democracia. É uma época maravilhosa, de transparência. A sociedade pode atuar melhor. Não depende mais de coronéis, donos das emissoras. É uma mudança que pode ser muito benéfica se a gente perder o preconceito.

Tá gravando?
É isso aí, pessoal. No blog do UniBH tem a palestra na íntegra que o Marcelo Tas deu, pra quem quiser ver. O cara é muito foda.

Em breve, mais entrevistas bacanudas aqui no Tudo em Geral. Já tá seguindo a gente no Twitter? Não? Então cola lá: @tudoemgeral

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4 comentários:

Unknown disse...

Parabéns pela entrevista Laranja! Foram excelentes perguntas, mandou super bem! E olha, seu blog é de extremo bom gosto, vou acompanhá-lo sempre que puder! Abração!

Lucas Plex

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gabriel disse...

ele é querido demais!

Rafael Soal disse...

quem?
o ricardo ou o tas?
ou os dois, né?

:)

 
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